2 de julho de 2015

Parque do Pac

Os corpos estirados no corredor
Adubam grama e flores que dão muita cor
um resto de ruína que ninguém quer ver
um resto de ruína que ninguém quer ver

Pessoas entre grades
histórias apagadas
sobrou só a metade
de morte decretada
e só sobreviveu
quem fingiu que morreu

e foi tudo enterrado
num lindo cemitério
fingindo-se virtude
pra toda juventude
e só sobreviveu
quem fingiu que morreu


no fim só uma escola
poe fim na prisão
faz nossa memória
viva em nosso coração

um dia os fantasmas
poderão dormir
mas nossa memória
nunca vai sumir


Coautora: Samylle Danúbia

clima poético

o diazinho 'tá cinzazul
céu rosto cara de alegreste
não sei se chove não sei se move
não sou bivolt
vai sai vuou
vai sabiá

Carta à uma moça

Cara Melissa
Sei ue esse papo não é convincente, as pessoas hoje não enviam mais cartas, mas me de vontade.
Queria muito dizer que não entendi o que aconteceu na noite em que nos conhecemos. Sua necessidade de beber a cerveja no copo ainda escorre pela minha anca. Sua declaração de desejo, "Não sei porque eu estou te contando tudo isso", ainda me faz rir. Nossa cachaça dividida ainda me embriaga. Sua baixa autoestima ainda me comove e me faz dizer: "Gata, seu corpo é exatamente do jeito que deveria ser. Você é linda pra mim porque eu te quero linda. Meu pau pulsa por você. Você será linda pra você quando gritar que é linda, sem ligar pras telas e chega de chorumelas"

Sua imaturidade já me sinalizava que não ia durar. Você se apegava nos virais da moda, nas séries da Universal (da Universal!), nos problemas do seu pai, nos filmes preferidos dos hipsters... Seus olhos verdes ainda me atraem.

Queria muito dizer que não entendi o que aconteceu na noite em que nos trepamos. Sua boca delicada ainda me lambe os beiços; e sua selvageria ainda morde. Meu descuido com as mãos me desconcerta um pouco; seus seios macios ainda me excitam; seu gemido de gozo ainda me faz sorrir; mas meu afã interrompido pelo seu desânimo ainda se revolta; meu atrito interrompido ainda quer que eu ejacule. Quanto mais eu me masturbo mais forte a sensação se instala.

Que desgraça a incomunicabilidade humana. A primeira rodada foi tão fraca... A segunda parecia tão promissora e de repente pá! O vácuo. O vácuo no peito, o vácuo na púbis. Você levantou e levou meu pau embora. Caí na sarjeta chorando e chupando o dedo, bêbado e derrotado.

Queria muito dizer que não entendi o que aconteceu na noite em que nos despedimos. Seu beijo de tchau ainda arde na pele do meu rosto e seu educado "desculpa" ainda dói no meu ouvido; meu afeto ainda está querendo mais tempo e meu orgulho não tem nem mais um segundo pra você.

Meu espírito está machucado. É um dilema moral. Você entende? É um dilema moral! O que eu faço, Melissa?! Queria saber o que você pensa, mas não dá pra você me dizer. Não sei como eu poderia chegar em você sem ser escroto ou estranho em demasia. Sou o meu pior inimigo. Me lembrei daquela "carta ao meu estuprador". Tenho medo da minha fraqueza humana e minha maldade latente me tornarem seu destinatário. Não vou deixar.

Queria muito saber o que é ser uma mulher... Pra saber de verdade o que seria a negação do machismo numa situação como esta. Eu sempre tive o impulso de evitar a cafajestagem. Essa seria uma atitude cavalheiresca. Mas péra! O cavalheirismo não é tão patriarcal quanto a própria cafajestagem? Caralho! Me responde Melissa! O que eu faço Melissa? O que eu faço? Não posso sequer te procurar. Não posso fingir que gosto dos seus seriados pra puxar assunto porque já fiz e não deu certo.

Sua apatia me fodeu logo de manhã. A falta de significado da sua fala digitada feriu muito o meu ego. Eu só queria saber se você estava tranquila. Não queria te abandonar. Homem é um bixo fraco e ingênuo. Mas quero me limpar do meu egocentrismo. Ouviu melissa! Foda-se se você se lincha pra mim. Vou estar disponível pra você, ao mesmo tempo em que assumo que fui eu quem fiquei mordido.

Você mordeu meus lábios e ainda dá pra sentir o gosto de sangue. Você me impactou e eu vou me liberar do baque, pois não posso simplesmente calar. Me calei a vida inteira Melissa! A vida inteira escondi de você meus sentimentos. Guardei tudo no fundo do meu peito como se fosse um Tai lung aprisionado, esperando pra fazer sua fuga (no filme do Kung fu panda, que você odeia); como se fosse um monte de beterraba cozinhando numa panela de pressão sem válvula; como uma bexiga de hélio subindo solta. Agora não vou mais guardar, vou disfarçar e distorcer e dispensar nesta carta:

educação centidébil
mental
carta divã
filosofia amorosa

Carinhosamente.