9 de dezembro de 2014

Sonho moderno

arremessei como quisesse laçar uma fenda
ela sabia do que meço como fim
uma vantagem de ferida a mais, vertigem

ai! idos lances velozes
ahhh. quebrou ritmo pra caraio!

mas versas livres deparam na tradição.
uma bola fora, duas e ai foi. deu.
fim da relação.

Coautor Eric Netto

2 de dezembro de 2014

Ditado belódico

foi-se
dê foice, velho!
fala do compositor
fala do compositor
Psiu! Ou! Ó!
Escuta a melodia
presta atenção por favor
por favor

di-ta-do belódico
ditado belódico

tava indo pro ensaio
já meio em cima da hora
fudeu! o busão pegou fogo
eu pulei fora

eu fiquei meio nervoso
tentei explicar o atraso
ninguém pôs fé na desculpa
eles até me xingaram
de mentiroso

di-ta-do belódico
ditado belódico

música feita pra músico
não faz sucesso
mas pra mim não tem problema
não me estresso
não quero dinheiro
não quero fama
quero fazer arte
sem fazer manha
entra no embalo
ouve a melodia
ouve cada estalo
ouve a harmonia
ouve a minha voz
minha alegria
rap rock samba funk pra curtir o dia

di-ta-do belódico
ditado belódico

um acorde diminuto
um acorde de segundo
um acorde de primeira
um acorde dissonante

um acorde invertido
um acorde inventado
um acorde acordado
um acorde dominante

di-ta-do belódico
ditado belódico

melao metódico
bosta nova
velha guarda
caipisertanojo
tecnobrega
ostentação
rock paulera
proibidão
tropicalento
bee-bop pop troque
xote de tequila
forró baiano
gospel catarro
canto de terreiro
e barulho de cão
...latino americano

di-ta-do belódico
ditado belódico

tava andando pela rua
tocando meu violão
quem olhava só pensando
"que maluco mais doidão!
deve ter fumado um beck
deve estar numa viagem!"
nem imaginam nem sabem
o quanto eu sou...
caretão

di-ta-do belódico
ditado belódico

27 de novembro de 2014

do seu gênero

Só que às vezes eu me sinto meia macho,
mas se eu não sou uma mulher
bom o bastante
pra você
que procure alguém

do seu gênero

18 de novembro de 2014

música música cristã

Esse negócio de música gospel
Não faz faz muito sentido para mim
eu prefiro fazer música música
e vou ter bem mais pontos pra com Deus

eu to tentando converter essa moral cristã
que fica só me atormentando logo de manhã
ô moral! na moral! Porque cê num acredita em deus
ô moral! Na moral! O que que foi que aconteceu?!

Eu to tentando acalmar essa moral cristã
que fica sempre me dizendo que eu sou de satã
ô moral! na moral! você precisa amar o amor
ô moral! Na moral! me traz mais amor por favor

Esse negócio de música gospel
Não faz sentido sem ter mais amor
eu prefiro só acabar com o ódio
estou cansado de castigos do senhor

16 de novembro de 2014

Fuga

não adianta fugir
da dor
dos pais
do senhor
dos ais
da cidade
do sonho
dos fatos
da morte
da vida

não adianta fugir
sem depois voltar

3 de novembro de 2014

22 de outubro de 2014

amor em excesso

amor quando vem do seu corpo ou da cabeça
tem sempre um limite pra dar e se receber
o corpo é simples finito e passageiro
sem cuidado não vive bem nem por um ano inteiro

e amor quando vem da cabeça não funciona
mistura razão e emoção quando vem a tona
e só faz surgir uma coisa bisonha

mas querer bem
não faz mal a ninguém
não tem que ter medo
e não tem segredo
sempre faz bem

então eu peço
amor em excesso
e quero dizer também

eu te quero bem
eu te quero bem
eu te quero bem

16 de outubro de 2014

monologo universitário em dois atos

I
A universidade uma cidade
que ignora o universo
a universidade seu universo
túmulo da revolução
paixão ardente com dentes
de alho sem coração
cidade da arte
inimiga do povo
do novo de novo
de espinhos
de muros na cara
de taparecendo
amigos de pobre
coroas de rei
de duros joelhos
de caras palavras
de raras centenas
de dores sentidas
cidade meu peito
a separação


II
Universo
meu desendereço fixo
na cabeça
meu des e res
encontros
conhecimentos
tons e destons
poemeto cheio
de concreto
em tula companhia
luta cia
solitário andar por entre a gente
não contentar-se de contente
ferida que dói e não se sente
-cidade

29 de setembro de 2014

quarto

Ela disse "Vem
tem espaço no quarto"
eu rezei um terço no instante
e entrei
na cara
metade

23 de setembro de 2014

me irrita

o sono
o silêncio
excessivo

aquela coisa entre saudade e nostalgia
a indecisão entre querer e dever

o ódio
a apatia
a certeza
o mando
o despeito
o pessimismo

a falta de vontade na falta de medalhas
a vergonha em mim
a falta de vergonha na cara de alguns
a folga e a falta de folga
o serviço
minha irritabilidade
minha memória curta
minha calvice
o banal cotidiano a novela e jornal
o desejo pela burrice

a não correspondência
incomunicabilidade
inerente
o medo
a possibilidade de surdez ou imobilidade

aquele sentimento, eventual e mentiroso, que bate no momento de ócio, entre um gozo e uma preocupação, de que apesar dos anos nas costas, das histórias, das venturas, dos amores, dos trabalhos, dos amigos, dos tutores; de que não existe mudança
de que o vácuo aumenta com tudo certo e nada resolvido

22 de setembro de 2014

sobre andar andando de trem a pé


eu vou andando vou andando pela linha do trem
vou andando conversando só comigo e ninguém
vou andando viajando até chegar de manhã
vou andando conversando com o mano Adonirã

No sobe e desce, sobe e desce, muita coisa vem
no sobe e desce sobe e desce sobre a linha de trem
vou ouvindo muito vivo o mano Adonirã
com a orelha de dentro que aqui não é vã

não é de vã é
de trem a pé
que eu vou andando aqui

não sou bom de improviso então eu faço o que dá
vou andando vou tentando na viagem levar
vou andando pra chegar
em algum lugar
pra ver o que a gente pode aproveitar
escrever o que vier nessa cabeça
que na cabeça
nasce tudo
em um segundo
e a gente não
sabe bem o que fazer

e agora passa alguém que acha que eu sou maluco
e agora passa alguém que acha que eu sou doidão
mas essa minha viagem não pode ser em vão
não pode ser em vão
não pode ser em vão
a gente vai cantando caminhando na canção

nesse trilho de trem
muita ideia vem
muita coisa boa
também

a gente pode acelerar
mas também pode parar
a gente pode acelerar mas também pode parar

a gente pode acelerar
ficar falando o quê que vem
nessa cabeça nessa boca
rápido ou bem deva
gar

pra gente
poder
pensar...

e a viagem é maluca pela linha do trem

e pensar
que alguém
pode falar mal
do Jorge Bem!

acho que ele também andou
nessa linha de trem
ele e uma galera andou andando nesse trem
e a gente
tem que aproveitar
essa mania
de cantar de andar viajar e entrar nessa doida loucura do nosso país
pra ser feliz

e não tem dono
não é de ninguém
e todos podem
subir nesse trem
sentar na janelinha
ficar de conversinha
de coisa bonitinha
pode sair bastante
ou andar só na linha
usar a rima pobre e a rica também
ao gosto do freguês

e você pode vir também que não tem nada
pra te impedir de chegar aqui
cantar brincar improvisar nessa parada


teve muito engenheiro
e tem uma engenheiro
que não queria esse trem
e não queria te ouvir também

mas nem vem que não adianta
a gente brinca bole e canta
a gente brinca bole e canta

a gente quer trazer e quer somar e quer brincar e não pode ter ninguém que vai te empurrar pra lá
pode ser um sambinha
pode ser um jazz também
um rock brega
um rock branco
um rock nego rock prog punk louco
pode ser um RAP também
eu não sou dessa, mas te aceito aqui do meu ladinho
isso aqui é
música popular
isso aqui é
música popular
que é pra somar que pra somar que é pra somá má má

não tem regra
não tem juiz
a gente só quer ser feliz

10 de agosto de 2014

noite completa

Na  noite faz companhia
a lua e a moça
e a batida do peito e o jeito na dança
e não há saudade
do dia

na noite faz companhia
a moça e a lua
mais calor quanto mais esfria
mais sua quanto mais na sua
e não há escolha
de uma

amorântico romanticoso
ama-se amasso
amasse lata
uive pra lua

apaixonante
disticonstante
apaixonante
disticonstante
apaixonante
disticonstante

em um instante
toda a noite passa
por refeição
completa ao tempero
de saudade
com gostinho
de manjericão

5 de agosto de 2014

todo dia de manhã

sua apatia que me fode todo dia de manhã
sua energia que me fode todo dia de manha
sua alergia que me fode todo dia de manhã
seu ódio porco que me fode todo dia de manhã

e o que eu quero pra você? Amor.
e mais amor e mais felicidade
risada e sonho de mais igualdade
porque se é pra foder
foda-se
gostoso

30 de julho de 2014

#semtitulo


Preciso cuspir:
Sou um poço de pudor
Pudor não sacia a sede
Só seca

Preciso pecar
Me empreste um pecado
pra me consolar
Me peque

Preciso parar
com as plurais interrupções
parar de parar
subir

Preciso soltar
a pressão de secura
de pavor e pudor
depressa

Precisoparardepressa!

Preciso cuspir
ou vou explodir

8 de julho de 2014

Metal Sheherazade

mulher
não lhe pertenceu seu corpo 
mulher
ele estava quase morto 
e a sua 
rara mente apaixonante 
cultua
sua vida e seu levante 
mulher 
cada história cada noite 
mulher 
para sua vida a corte
sultão 
seu marido seu perigo 
em mão
cada história seu abrigo 
Vai!

Aladim venha salvar a mim
Ali Babah
Venha me salvar
Aladim venha salvar a mim
Ali Babah
Venha me salvar

Mulher 
lhe partiu o coração
mulher 
arrepende-se o sultão
o gênio
pra fazer revolução
Xariar!

A história se passa
mais de mil  
e uma primaveras
e agora Sheherazade
já é outra...

só quer agradar o sultão
só quer agradar o sultão
só quer agradar o sultão 

cairá o império
do terceiro milênio

Não vai ter mais
Jafar!
Não vai ter mais
ladrões
Não vai ter mais
Sultões
Não vai ter mais...

Xariar
não vai mais matar
nenhuma mulher

Xariar
não vai mais ma-tar
ne-nhu-ma mu-lher

Xariar
não vai mais matar
nenhuma mulher

Aladim venha salvar a mim
Ali Babah
Venha me salvar
Aladim venha salvar a mim
Ali Babah
Venha me salvar

6 de julho de 2014

Defeito

O defeito de Pedro era não ver o mundo.
Desde cedo pedro saia fora da realidade. Pedro foi na igreja e aprendeu que Deus tinha criado o mundo, passou ver tudo como o que Deus criou. Foi na escola e aprendeu que os nórdicos acreditavam em mais deuses, que burros. Aprendeu que os opostos se atraem, aprendeu sobre a formação do sistema solar, aprendeu sobre a evolução e aprendeu que deus não existe, que burro. Viu um filme sobre um soldado que tinha a mulher sequestrada e perseguia os sequestradores pra se vingar e libertá-la. Leu um livro sobre a história de um casal apaixonado. Aprendeu que o amor é forte e incondicional e que só o amor por uma mulher podia fazer um homem completo e feliz. Se apaixonou por uma menina chamada Sandra. Aprendeu que só ela podia fazer ele aceitar a vida, aprendeu que só ela faria ele se sentir forte, vencer na vida, ter filhos e ser uma pessoa de sucesso. Se aproximou e se declarou para a Sandra. Eles começaram um namoro adolescente, ele aprendeu que o ciúme era uma prova de amor, mas que ela não percebeu. Ele então aprendeu que mulheres não valem nada, que só valorizam o dinheiro e estabilidade e não se importam com o amor, aprendeu que o amor não vale nada. Aprendeu que a Sandra tinha inveja dele, que sabia que dois mais dois era quatro, que ela tinha se aproveitado de tudo que ele ofereceu, dos momentos em que ele cuidou dela quando ficou doente, mas que ela só fazia algo para garantir que ele estivesse sendo otário. Aprendeu que se ele realmente continuasse com ela, sem ser rejeitado por ela, que burra, ia continuar sendo capacho, trabalharia pensando que tinha alcançado o sucesso quando só trabalharia o dia todo com uma vida tediosa e sofrida para não ter o tratamento devido vindo dela, que os filhos dela seriam educados para sugar tudo dele e querer se opor a ele, que depois de tudo o casamento acabaria sendo desfeito e sua vida ficaria ainda mais sofrida e tediosa.
Pedro ainda tinha 20 anos. Pedro viu uma notícia na TV. Um jovem de feições orientais, Bruno, havia sido preso. Pedro aprendeu que o japonês era um arruaceiro terrível, que queria destruir os valores importantes de Deus e do amor e da família e do respeito e do magnetismo, que o tal jovem merecia sofrer todas as circunstancias da lei que estava sendo seguida e que bom mesmo seria se pudessem ser mais diretos.
O defeito de Bruno e Sandra era não ver o mundo.

18 de junho de 2014

O amor da minha vida

Todo mundo deve ter tido um, lá pelos seis, sete anos de idade. Aposto que a psicanálise deve ter um estudo científico sobre primeiros amores.

Marina, era o nome dela. Pra minha família era uma amiguinha da escola, pra mim era "o amor da minha vida".  Na prática eramos bem amigos mesmo. A gente brincava muito, se via todo dia na escola, ela ia na minha casa, eu na dela.
Mas outros colegas chegaram a ir em casa e eu na deles, (como conto nos Fatos vergonhosos), meninos e meninas. Os colegas de quem eu não gostava acabaram me deixando lembranças muito boas na memória, dos dias em que fui na casa deles. Mas é claro, o que tornava a Marina o "amor da minha vida" era eu pensar que ela era.
Eu gostava dela, eu sonhava acordado, projetava uma vida inteira com ela; sonhava com o dia em que ia contar do "meu amor" pra ela. Eu construía na minha cabeça dezenas de situações onde eu beijava ela, normalmente imaginando algum canto da escola como o lugar. Eu imaginava um beijo de cinema, mas nem sabia que beijo tinha língua e imaginava sexo também segundo minha referência de novela e cinema, como se sexo fosse só dar uns amassos com pouca roupa.  Mantinha isso como um segredo valioso do meu coração, que eu só podia contar para os meus melhores amigos. "O meu melhor amigo" era o Eduardo e tenho certeza que em algum momento devo ter falado do "meu amor" pra ele. Era como se eu fosse o Doug, ele o Skeeter, e ela a minha "pat Maionese" (e eu rio alto escrevendo isso).
Talvez esse desenho tenha sido uma grande influência pra construir esse universo imaginário, pois eu e o Paulo, meu irmão, assistíamos todo dia, quando eu tinha uns quatro ou cinco e ele seis.
Eu acho engraçado e sem sentido o fato de que pra mim isso tinha que ser segredo. E era natural na minha cabeça pensar isso. Uma vez passei um tempo em Tatuí e contei ao meu primo que gostava dela, porque ele tinha falado de uma menina que gostava, que queria namorar e toda uma história. Mas depois, logo que ele teve chance, contou tudo pra minha mãe, pai, irmão avós, e eu fiquei com a cara no chão, indignado. Me toquei depois que ao contrário de mim ele não mantinha segredo do amor dele pela menina que gostava.

Passei uma vez um fim de semana inteiro na casa dela. Brincamos direto no condomínio, falamos sobre as coisas. Acho que cheguei a falar algo sobre eu ter irmãos e ela não. Em compensação lembro bem que dormimos uma noite no mesmo quarto. Eu, ela e o pai dela, nós na cama e o pai dela no chão em um colchão. Quando eu acordei eu estava embaixo da cama, sem entender nada. Depois no café o pai me contou que caí da cama no meio da noite, em cima dele, e nem acordei.
Depois de muita história real e imaginária a marina saiu da escola. Na verdade esse tempo infinito de criança foi muito pouco, um ou dois anos, e eu nem lembro direito como foi a saída, mas não foi muito sofrido pra mim.
Eu era completamente pleno e feliz quando criança, pois meu pai e minha mãe me bastavam. Na adolescência isso deixou de ser verdade, mas aí ainda era e foi quase natural eu meio que recriar esse sentimento na Ananda: outra colega da escola que também era loira e que era bem amiga da marina e tal. Nessas horas o conceito freudiano de transferência parece que faz muito sentido. Quando me analiso e penso em todas as minhas paixões, tenho a impressão de que todas estiveram ligadas à da Marina (e se eu for freudiano de verdade obviamente tenho que pensar que ela também foi uma transferência do amor pela minha mãe). Mas seja como for, esse amor me parece que foi tão puro quanto a minha alma de criança.

É muito estranho. Extremamente estranho, que "o amor da minha vida", esses dois primeiros, foram pura felicidade. Eu simplesmente não lembro do que seria ruim. Não lembro do Adeus, do Fim.
Amor por muitos anos foi pra mim essencialmente sofrimento, especialmente dos 14 aos 20 anos. É um setênio inteiro, mais que um quarto da minha vida sofrendo intensamente (já que tenho 25 agora), mas não naquela época. Naquela época o amor era só Amor. Marina: o amor da minha vida.

11 de junho de 2014

Fatos vergonhosos

Tenho marcado na minha vida algumas situações que separo na cabeça como "fatos vergonhosos". Alguns deles na realidade acho hoje engraçados, mas me marcaram por muito tempo.
Um deles, acho que o primeiro foi no jardim de infância (5 ou 6 anos), no segundo ano em que morei em Ribeirão Preto. Eu vi duas meninas que não conhecia direito, uma contando que ia na casa da outra, isso na hora de ir embora da escola; e imediatamente fui até a minha mãe e apontei "Mami, eu quero ir na casa dela!". Essa é a parte mais clara de toda história na minha lembrança e durante muito tempo eu tive vontade de me enterrar debaixo da terra toda vez que lembrava desse dia. Minha mãe tentou me explicar: "mas você perguntou pro pai dela?" Não. Então fui direto ao pai dela "Oi. Posso ir na sua casa?" E a menina me olhou estranho e o pai já disse algo do tipo "mas ele também? como assim?" e nisso se desenrolou essa incrível descoberta de que eu não posso simplesmente olhar pra alguém pela primeira vez na vida e decidir que vou na casa da pessoa pra brincar.
minha mãe — Mas você conhece ela?
— Não, mas eu quero ir.
Pai da menina — Mas calma. Não é bem assim. A gente tem que combinar primeiro.
— Então vamos combinar?
— Vamos.
A menina era a Fernanda, que estudou depois na mesma sala que eu por 3 anos e meio. E de fato, eu acabei indo na casa dela e foi muito legal, apesar de eu ter lembranças muito vagas de como era a casa dela e do que diabos a gente brincou. Hoje eu acho só engraçado; e natural pela idade que eu tinha, mas depois que eu percebi que não podia fazer isso fiquei com esse embaraço de lembrar.
De certa maneira é algo natural quando se mora em um bairro calmo e simples, pelo menos nos tempos em que a rua ainda era um espaço lúdico. Meu irmão mais velho sei anos mais velho que eu) na época quase um quase adulto na minha cabeça tinha alguns amigos da rua, e com a escola sendo perto as vezes as duas modalidades se misturavam. Fato é que eles às vezes brincavam de polícia e ladão ou pique esconde, mas já estavam em fins da pré adolescência quando eu ainda era plenamente criança. Em uma certa tarde na frente de casa eles ficaram trocando ideia e eu estava junto, porque gostava de seguir o irmão mais velho e porque gostava de brincar com eles, mas na real essa não era uma oportunidade. Depois de um bom tempo esperando não aguentei e falei "Ué! Mas vocês só ficam aí falando! A gente não vai brincar??!" Todos eles deram risada e eu não entendi. Mais um ponto pro fatos vergonhosos!
Engraçado, que quando eu é que era o pré-adolescente, já em São Paulo, e queria me desvencilhar de atitudes de criança, me vi numa situação inversa quando uma colega chamada Camila chamou a mim e ao meu amigo Lukas pra ir na casa dela. A gente acabou perguntando "Mas pra quê?" e ela "pra brincar!" toda animada. A gente achou esquisitíssimo e eu lembrei bem desses dois causos, mas no fim fomos e tal e me lembro mais da gente ouvindo música muito alto na pegada headbanger do que algum momento mais da "brincadeira" mesmo.
Camila, o nome do fato que acho que foi o segundo, também em Ribeirão. A gente era bem amigo (como eu conto na amizade, brincávamos de cavalo o tempo todo e tal) e como ela teve que sair da escola no fim do segundo ano (1997), meio triste de sair da escola, deu uma "cartinha de natal" pra todos os alunos de despedida. Essa expressão é muito importante porque ela é que fodeu tudo. Como na minha cabeça "cartinha de natal" era aquela que a televisão diz que a gente manda ao papai noel eu simplesmente ignorei a mensagem de afeto que ela me mandou e escrevi por cima daquilo algo do tipo "Papai Noel, quero ganhar uma bicicleta..." e ela chorou rios de lágrimas por conta do que eu fiz. hahahaha e eu (idiota, clueless) fiquei tipo "Ué! Não é uma cartinha de natal? Então!" Depois de entender direito o que tinha acontecido esta também teve que entrar para o hall de fatos vergonhosos.

Não gosto de post longo. Escrevo mais fatos vergonhosos e mais possíveis memórias outro dia.
Não percam! hahaha

29 de maio de 2014

#semtitulo

não sei se ando no mundo da lua 
na lua do mundo ou em outro andar

não sei se anda-se na lua
se é de queijo que ela é feita 
ou se é de prata ou se é de mel

não sei se luanda

não sei ainda se memelissei
a lua avua sem passo nem erro
em cima ruma sem remo ou canoa
e nela Mar é. navegante, andante
nareia praia, no vai aí vem

ando no mundo da lua sua ninguém
ando querendo à vontade
nua vazante de cheia
e valsandando parada
vou indo além do além

25 de maio de 2014

vergonha

bamba e engessada
insegurança causa e cal
de inseguranças cais e caos
querer e saber
que não vai dar
pra ter feito

defeito
pra quem tem
qualidade
pra quem não
tem na cara
na coroa
não há
mas há
e há
e áh
e nada
some em vergonha essa cara estampada
de vermelho branco
que só pega
no tranco
e barranco

e a força na fraqueza
estar sempre na batalha
e da vitória profetizada:
— "força de lírica e mais epopeia
se vencer
mas sem se
derrotar

minha cabeça

Minha cabeça roda gira roda gira roda mais que um piiião
Minha cabeça sobe desce sobe desce mais do que um aviiião

Minha cabeça acelerada não pode ficar parada
e se o meu corpo não faz nada ela vai — BUUM!
Me enlouquecer!

Conversa, carro, moça, moço, maço, massa e mais
Catraca, trampo, trava, troca, troco, treco e mais
Universo, sonho, sanha, manha, medo marra e mais
Repeteco susto cesto sexta desespero e mais
samambaia vaia palma calma desespero e mais
Calma desespero e mais
Calma desespero e mais

Mas isso é sério: acontece, na semana passada o meu amor... não sei o quê
Então eu to desesperado
eu to desesperado
Então eu to desesperado
eu to desesperado
Em tão eu to diz esperado
Eutô diz zis per ado
In tão eu t^^o disiz perado
Eu toddys esperar-
Dói em tão eu todes esperado

Em tão eu

bibarebarabaribarãbaruuuu (peraê que tem mais um pouquinho de u) uuuuuuo

13 de maio de 2014

beleza

as folhas verdes ao alto
por debaixo das árvores
sob um céu de alvorada
numa brisa sutil
a calma

uma nota outra nota
uma orquestra uma banda
uma longa uma branda
uma obra sem par
o gozo

uma mão de criança
brincadeira de arte
artimanha manhenta
uma frase um sorriso
alegria

um cabelo brilhante
sobre a nuca exposta
pano branco desfiado
uma linha nas costas
vislumbradas

tristeza quase
melancolia

28 de abril de 2014

domingo

domingo
doígor
do mínguo
dormindo
dormindo
dormindo

molenga
lençol
coberta
cobrindo
com sono
cobrindo
com manha
no dia à
tardinha
ainda
na minha
preguiça
nem indo
nem vindo
sem lindo ou
feioso
desgosto
nem gozo
janeiro
nem março
friozinho
a gosto
sem pressa
sem pranto
num canto só
embalanço
só nessa
sem pressa
na manha
primeira
segunda
nem penso
nem danço
nem canso
balanço
na boa
soprando
toando
voando
ainda
e a manha
não finda
ainda
minguando
domingo
de páscoa
domingo
de ramos
domingo
de nada
de velhos
de manos
de almoço em
família
bem lento
no lento
alento
sem brisa
nem rima
nem samba
nem mambo
nem tango
só valsa
e valsa
e valsa
e valsa
e valsa
no limbo
domingo
dormindo
dormindo
dormindo

25 de abril de 2014

Só há trabalho para os homens

"Só há trabalho para os homens
Somente
[...]"
Daniel Neves

Só há trabalho para os homens
Somente
Só há trabalho para os homens
Somente!
Só há trabalho de verdade para os homens
Cachorro
Só trabalho
Homens
Só homens
Vagabundo
Só há homens
Sem vergonha
homens
Para!
precisamos trabalhar

3 de abril de 2014

#semtitulo

cabelo na orelha
coração no dedo
que larga centelha
um amor segredo

vermelho no preto
desenho em pedaço
no ombro discreto
meu míngue seu mangue
e agora o que faço
meu singue seu sangue
num minte de instante
nem longe supero
proveito de um quero

18 de março de 2014

cinza

A cidade é cinza
como pedra
um cinza difícil de engolir

cinza amargo
como cacau
como café

a cidade é cinza
de todas as cores
como meu coração cinza
como mil placas pintadas
como cem quilos de piche
e cem gramas de calçada
e grafite em toneladas

cinza velho
como o busto de gente ida
como as ruas e avenidas
como os sonhos paixões e vidas
como os céus os reais e ais
como os seus os meu e demais

a cidade é cinza
como cinza
pode ficar

a cidade é muito cinza
como
é difícil
de
degustar

6 de março de 2014

#semtitulo

lembrando um
amigo
meu
lembrando um pouco
um copo-
eta
uns corpos
amo-
lação
umas coisas
ponta de faca
ponteiro (tenho que ir embora)
família (tenho que ir agora)
fio de machado (te nhoque irá ahora)
fio de machado
afiado
padinho
cumpade
saudade, pai
eu
fio de achado
penso que eus embros
em bolar
imolar
eu eito
eu cor luze som
na sestreza
acabo dando mais certo
acabo chegado mais perto
sai mais direito
direto
cúrveo discreto
ma está creto
oi ma
oi pa
iô pa
iá ma ma oi

interro-
cadê o logo
o lago, pato
cumpadi
cuntradi
são
vozes
"o jardineiro é jesus"
e
"as árvores somos nozes"
"nozes"
"as arvre"
"as ave"
"as avô"
"as frô"
"as fulô"
"as maria amaria"
não varia!
"o jardineiro é Jesus"
"e as árvores"
"somos"
"nozes"
"nozes"
vozes
ô pressão
quanto custa
apreço
dez a corda
comigo
est'a cor
do ortográ
fico
mal ou mau

eu
sim tudo
instinto extinto
extinto
este texto esta á
gora
quem sabe sem
incomplexo

repito
"eu
sim tudo
instinto extinto extituo este instinto extinto
extinto
este texto esta á
gora
quem sabe sem
incomplexo"

pois esta
chegam
dua
ora
iê o
"tenho que ir embora
sem enrolação"

tchau
volto

oi ma
oi pa
iô pa
iá ma ma oi
apareço
livraço
mas é só
dissociação
quem sabe só
som
quem sobe sombras
alma
vozes
braços
esperança esquizofrenista nestas
de serem ouvistas
ouvistas
e entreditas...
entenditas...
entrenditas...
e bem pro-nun-ci-a-das
sorte ou asas
à esperança
equilibrista
no fio
de machado
direito
ex-queda
da polis-
semia
da minha cabesta
está
ágora
passou muito do hora
rio
como um nego a canoar
nego a negar
pois meu branco
do olho
pro meu olho é igual
e não vai ter fim
e chega
e fecha
e abre
e fecha
e não
acabe

não cabe
sim. está
mais
louco
encomprido
pois

não consigo
comigo
parar

4 de março de 2014

Hábeis tratos concretos

estes versos não
são concretos
mas são
só mais discretos

estes versos não
são                   concretos
mas são
só mais             discretos

estes versos são
canção
locução
sansão no inverso

estes versos são
can             são
locu            são
san             são              no inverso

todo verso é
repleto
de só ré, soul
som concreto

todo verso é                                                                 com
re                       pleto
de só ré                                      soul
                                                                   som                                 creto

ritmo fato
fato
musicante
não contrato

ritmo     fá            to
                           fato
musica                     nte
     não               com              trato



duro 
       ou                       sol 
   to              e              
                                 diz 
                    persa
                    (o)
                    | |
                   /  \

...

duro ou solto e disperso
mesmo antes de dito concreto o dito em verso não é abstrato

corpo no artista
física
não concretista

corpo no

artista

física

não concretista

objeto
objeto
objeto!
o verso é concreto

e o conceito?
é papo
é só
abstrato

Não faz mal

Acontece nas piores famílias

25 de fevereiro de 2014

receita do susex

Mixture o dito erudito
com o dito popular
entre no lar do oscilar
transforme
o filho de peixinho enguia
cedo ou tarde madrugada fria
seja sábio que te influencia
pra escolher
no show bis o seu bis todo dia
e seja cultx e felix
e aí só alegria

24 de fevereiro de 2014

#semtitulo

sorria meu dia
cheiroso esse ar
humor no calor

enquanto vinha a chuvinha fina gente fina só pra refrescar

10 de fevereiro de 2014

Comentários

Finalmente consegui driblar a trolagem do blogger que n tava me deixando colocar comentários aki. Agora consegui colocar um app do face que permite comentários pelo face. \o/

Porque, citando Raul...

"Sonho que se sonha só
é só um sonho que se sonha só
mas sonho que se sonha junto
é realidade"

nessas letraserrabiscoitos meus diários
as suas letraserrabiscoitos seus
positivos, artísticos, contrários
a honra imensa dos seus comentários

5 de fevereiro de 2014

Amizade

Desde que eu comecei a escrever com frequência tenho vontade de escrever um poema sobre amizade e até hoje não tive nenhuma ideia boa, mas talvez esse escrito prosaico já tenha uma poética interessante.

Meu primeiro bom amigo eu confesso com um pouco de remorso que não lembro mais o nome. Era no jardim de infância da Convívio, escola Waldorf de Ribeirão Preto, onde eu só tinha esse um amigo e com a exceção dele só brincava com algumas meninas Tinha uma Pátrícia de quem eu gostava muito que, assim como esse que não lembro o nome, saiu antes do primeiro ano.

Quando fui para o primeiro ano, num primeiro momento só tinha amigas. Lembro da Camila, Marina, Ananda, Priscila, Flora (tão bonito esse nome). Até que entrou na classe, acho que ainda no primeiro ano, o Eduardo. O Eduardo muito rápido se tornou o meu melhor amigo oficial, até porque com o tempo fui ficando amigo de outros meninos, como o Rui e o Daniel, mas existe um período da minha infância que é muito marcante na minha memória, quando minha cor preferida era amarelo, minha fruta preferida melancia, meu melhor amigo era o Eduardo, minha melhor amiga a Camila e o amor da minha vida era a Marina.

A Marina na prática era minha amiga (falei melhor disso em outro post) era filha única, gostava do Ricky Martin, morava em um apartamento, uma vez subiu comigo em uns pinheiros altos pra cacete, até hoje minha mãe conta que alguém veio falar disso pra ela na hora no desespero e ela só disse "deixa eles, não quero nem olhar".

A camila adorava cavalos, a mãe dela era e é uma cantora profissional e na época tinha ganho um prêmio de novos talentos de Ribeirão (tenho o CD até hoje). Eu fui mais de uma vez no sítio dela pra festa de aniversário, brincadeiras e é claro: andar a cavalo.

O Eduardo era filho único  também (na época), morou primeiro numa casa térrea, com uma piscina que provavelmente era menor do que eu lembro, depois numa casa maior, de dois andares. O pai dele tinha uma pizzaria e a segunda casa tinha um espaço bom pras coisas de pizzaria (na primeira não lembro), com muitos potes de Catupiri. Ele tinha um trailer enorme e até pouco tempo ainda tinha em casa um imã de geladeira: "pizzaria Mineiro". O Eduardo era engraçado, fazia umas micagens, a gente dava muita risada. Eu tinha uma coisa de dividir segredos, uma vez contei que na família me chamavam de porco e eu não gostava. Na hora ele me zoou muito, me chamando de "leitoa cor de rosa" (huahahaha), eu fiquei meio puto, mas que eu me lembre ele nem contou pra ninguém na escola.

A gente andava muito com o Rui e o Daniel, do Daniel não lembro tão bem, mas do rui eu lembro algumas coisas: que ele tinha uma coisa de gostar de ciência, tinha um lugar na casa dele cheio de brinquedos que era tipo uma oficina. São lembranças nebulosas, mas tinha algo de brincar de inventar coisas, gostar de ouvir Legião Urbana, mágicas, ilusões de ótica. Ele fez um aniversário bem legal uma vez, teve umas coisas de animação de festa, não consigo lembrar bem, mas lembro que uma hora fui mexer com a cachorra dele e ela (de saco cheio de um monte de crianças perturbarem) me deu uma mordiscada na cara e eu chorei a beça.

Tinha um baixinho que entrou na escola anos mais tarde, acho que chamava Rafael. Adorava brincar de Chaves e era muito engraçado. Era também muito pentelho e eu batia nele às vezes (coitado).

Tinha uma coisa de alguns colegas de classe que eu detestava e tinham umas briguinhas aqui e ali: Thiago, Raphael (acho q o sobrenome era Pinni), Aurélio... Desses eu só apanhava, mas boa parte deles depois me deixou boas lembranças.

Com 10 anos minha família voltou pra São Paulo. No começo eu sentia bastante saudade do pessoal, mas passou dois anos e comecei a nem pensar tanto. Foram mais de 10 anos sem mandar uma carta, sem fazer uma visita. Quando eu lembro disso me sinto meio abandonador. Cruzei uma vez com minha professora Rita em um Bazar da Escola Waldorf Rudolf Steiner e nem soube muito o que falar. Só reparei com certa surpresa que ela já era menor que eu na época e já tinha uma aparência não tão jovem quanto me lembrava.

Não vou falar de amizades posteriores aqui porque deixa de ser minha primeira infância, mas tenho ótimos amigos. Muitos! Quando em 2012 decidi começar a escrever essas Possíveis Memórias, me deu uma vontade incontrolável de reencontrar alguns desses amigos que eu abandonei em Ribeirão. Encontrei e adicionei no facebook o Eduardo, depois Amanda, Rui, Thiago, Ana. Até hoje não achei a Marina nem a Camila.

E hoje o Eduardo passou no mestrado, está feliz e agradeceu o apoio de algumas pessoas importantes. Pra minha surpresa meu nome estava ali. Me dá quase uma vontade de chorar, de alegria, por esse amigo de verdade, que agora está indo para o mestrado, que mesmo com uns 13 anos sem receber uma carta, uma mensagem, ainda sente que é importante compartilhar comigo um momento assim.

4 de fevereiro de 2014

Roda da Folha

Pela grande honra de ter estado na casa de Tom Zé, tomando cafezinho e acompanhando a entrevista, compartilho com vocês o momento.

19 de janeiro de 2014

não vejo a hora

não vejo a hora
de ver a hora
de ver meu tempo
passar

de ser um cara
que não tem demora
pra ver o agora
tique taque andar

mal vejo a hora
do embrulho e laço
que espero espaço
tempo pra ganhar

mal vejo a hora
de ver a visão
de no coração
não mais esperar

eu to cansado de não me cansar, de não ver o tempo tique taque andar
tiquetaqueando tiquetaqueando tiquetaqueando no mesmo lugar
quero um tempo outro e o mesmo tempo ao mesmo tempo
futuro no presente e o presente do que virá
eu vou rimar com a
eu vou rimar com a
eu vou rimar com a
rimar com a rimar com a

lala lala
um belo tempo pra voar