quando um burro fala

Quando a cigarra canta

Borboleta levanta as asas

Quando a Terra fala

Semente cai no chão

Quando o vento sopra

Arrepiam os pelinhos

Quando o sino toca

Braços gestam oração

Quando a vida emerge

A alegria mostra a cara

Quando o sonho mostra

O acordo vem na lembrança

Quando a gente dança

Coração bate mais forte

Quando o sol desponta

Passarinhos fazem cantiga

Quando a voz amiga

Mágoa evapora na hora 

Quando vem saudade

Carinhos ajeitam a mala

Quando um burro fala

Agradeço pelo milagre

Verolhar

Só vejo seu olhar
o que olha ou o que vê
Pupilas de um viver
contemplando embebido no já

contém tempo, planos de estar
ao seu lado, passo a passo
nos impulsos ao planar
pés descalços pelo ar

vejo o que sou em seu olhar
pleno mergulho em rio no breu
depois rio do orgulho que tinha os eus
e trago num laço o compasso dos nós

Coautora: Julie Centeno

águas

Lago me alago

Transbordo amargo

De represálias me cobre o mundo

E o mesmo mundo de tantas gentes

Só me carrega de afluentes

Solto me solto

Rebento margens

E marginais viram meus iguais

Mas pelo morro de novo escorro

Corro socorro valha-me adeus

Ah quem me dera ser oceano

Pra correntezas levar nos ombros

Com meu amor que é nada humano

Tanto te amo 

Tombo os meus planos 

Tombo os meus medos 

De me molhar

peso

As palavras poucas

As pedras apavoram

MAPA

Pátria armada

Mátria amante

Amordaçada

Pai distante

Mãe só sobre-

carregada

Levante Vida

Unida

Nesse instante

Penumbra

Eu penso várias vezes

Em tentar te falar

Um pouco do que eu sinto

Mas não sei te expressar

Não sei se sou eu 

Não sei se soa 

Não sei

Não sei se sonha

Não sei voa

Você

As vezes nem mereço 

O som da tua voz

Me perco me esqueço

Mas sinto muito forte

Que o teu olhar pela penumbra

Com teu mistério me deslumbra

E a dúvida só me perturba

E o medo aparecer me assusta

Mas quero só que você sinta

Que dançar com você me anima 

E o meu desejo se sublima 

De poder ser sua menina

Menina

Eu quero ser sua menina