26 de março de 2015

Concerto pro peito

Quero menos cabeça
menos blablabla
nossos corpos se entendem
não dá pra explicar
O que os dedos aprendem
o que há no ar

Eu só quero
sentir o seu corpo
querendo gozar

Cemitério
de toda tristeza
que pode brotar

Desespero
de ver o seu tronco
curvando no ar

Eu só quero
tocar os seus poros
até me molhar

E se não tiver jeito
tudo bem também
tem concerto pro peito
tudo soa bem
nunca vai ter perigo
te querer teu bem

20 de março de 2015

Igor racista!

Foi aos 14 anos, quando eu estava no 8º ano do ensino fundamental, que em certa tarde eu estava indo pra casa e senti aquele cheiro. É uma memória bem difusa, mas sei que foi nessa idade. Nessa idade eu senti um cheiro que mudou minha concepção de vida. Um dos grandes marcos da minha consciência.
Antes, quando eu tinha 7 ou oito anos, morávamos em Ribeirão Preto, costumávamos ter sempre alguma pessoa, sempre mulher, geralmente negra ou de origem nordestina, que fazia faxina na casa uma vez por semana; e por um certo período de tempo tivemos uma moça que vinha e trazia sua filhinha, ainda bebê. Eu não gostava dela, não gostava da filha dela, que fazia barulho e chorava por motivos que eu não entendia, a moça me dizia "conversa com ela", mas eu resmungava que não tinha como eu conversar com alguém que não sabia falar, não sabia como.
Anos depois, com 12 anos eu comecei a ir de ônibus para casa da escola, já morando em São Paulo. Fato é que subi no ônibus, que estava razoavelmente cheio, mas não lotado, passei a catraca, fui para o fundo, para ficar perto da porta. Na última fileira de bancos havia uma mulher sentada, não gostei dela e de repente me veio a memória da minha antiga faxineira. Veio vindo à minha cabeça um raciocínio e comecei a pensar. Nossa! O que me incomoda? O cheiro dessa mulher. O mesmo daquela faxineira de Ribeirão. Como chamo esse cheiro? Acho que é "cheiro de negro". Odeio esse cheiro de negro. Quero descer.
Com 12 anos minhas ações começavam a ficar já mais independentes, minha mãe não brigava mais pra que eu tomasse banho, ela não me obrigava a escovar os dentes, não me obrigava a passar tardes na escola onde ela trabalhava, pois eu já estava grande o bastante para ir para casa (cerca de 2km da escola) de ônibus ou a pé. Eu fui criando, a partir daí uma certa identidade com bandas e artistas de rock, que eu gostava de escutar, tinha vontade de deixar o cabelo crescer, de tocar violão, ter uma guitarra, zoar com os amigos e às vezes dar voz à preguiça não tomando banho, deixando de fazer uma ou outra lição e brincadeira já ia virando "coisa de criança". Comecei a ir a pé para casa, pois valia mais a pena gastar o passe escolar trocando por um pastel.
Acontece que após essa puberdade, meninos começam, por volta dos 14 anos, a transpirar mais, a ter pelos nas axilas, a produzir mais testosterona (que agrava o cheiro corporal). Eu ainda não tinha entendido bem a utilidade de desodorantes, que antes eram desnecessários, já tinha sido algumas vezes zoado na escola por estar cheirando mal, mas acabei tendo uma situação realmente peculiar quando cheguei a este dia e este momento do início do texto. Senti um cheiro, aquele mesmo cheiro de negro, olhei em volta e não havia nenhum negro por perto. Puxei a gola da camiseta até a altura dos olhos, levantei o braço direito e que desgraça de cheiro de negro. Minha cabeça se pôs a funcionar de novo. Eu não havia passado desodorante, estava a três dias sem tomar banho, minha rebeldia estava exalando um odor não tão aplaudível. Mas meu pensamento foi girando e o cheiro foi ficando mais forte, fui chegando em casa muito incomodado e o cheiro continuava aumentando. Já não era o mesmo cheiro, alguma coisa estava errada. O cheiro não era só ruim ou incômodo, mas insuportável. Minha cabeça ativa foi se questionando. O que é isso? Como pode?

Isso é o cheiro, Igor. Isso é o fedor fétido. É a podridão do seu racismo esfregada no seu nariz.

7 de março de 2015

Os mandamentos: Verdade na mente e no espírito

Imagens e texto citado extraídos da página Cidade da fé

" Mais um Sacrilégio! Há poucas horas, um protestante da igreja universal - sim, aquela porcaria de seita do "bispo" Macedo - invadiu a Igreja Matriz de Montes Claros-MG e quebrou várias estátuas de santos. A polícia já prendeu o vândalo.
Mais informações na página da Arquidiocese De Montes Claros
 "

A ignorância humana é infinita. Quando você se depara com a notícia de que um cristão quebrou monumentos cristãos você imagina o que raios motivou uma atitude dessa. Feita a pergunta alguém levanta o dedo e fala, "ah! é por causa dos dez mandamentos". Está explicado, mas justificado não está mesmo!

Existe utilidade no estudo de textos bíblicos, mas é claro que não podemos internalizar esses mandamentos simplesmente engolindo um texto escrito a milênios atrás. A partir de cada mandamento uma reflexão pode (e deve) ser levantada. 
O segundo mandamento (não farás imagens quaisquer para adorá-las, etc) está ligado ao que é superficial. A ideia é manter a adoração à entidade espiritual, não privilegiando uma imagem. Isso não significa que devemos destruir imagens. Significa que não devemos nos apegar a elas; em última instância não se trata apenas de santos e imagens de cruzes e de cristo; não devemos nos apegar a templos, a igrejas, a sacerdotes (principalmente os falastrões, criminosos, fundamentalistas), já que o divino reside dentro de cada um de nós.

Fora que mandamentos similares são universais em todas as religiões. Estão ligados a virtudes essenciais humanas. A virtude do primeiro mandamento, assim como do primeiro artigo da lei escoteira, é a virtude da verdade. Trata-se da busca da verdade suprema, que está ligada à crença em um deus único, perante a Bíblia.

Mas afinal, pensar que Deus é único e onipresente não deveria nos fazer respeitar todas as religiões, já que Deus, sendo único e onipresente, repito, está obviamente manifesto em todas elas?

A segunda virtude, que se refere a estas imagens, é a lealdade. A lealdade a essa mesma verdade. Pensar em um deus único e depois pensar em múltiplos deuses, em imagens, em personalidades, poderia ser a ausência de lealdade. Mas já que estamos no plano metafísico, me parece que o importante é a postura. Sermos leais a nós mesmos é um primeiro ponto. Se sentirmos que estamos sendo leais, importa essa perspectiva interna. Ou seja, perante a crença católica, não há problemas considerar os santos como entidades intermediárias e não há problemas em fazer estátuas de Santos como adornos. Se você discorda, basta ficar longe.

Cada uma das leis, mandamentos e/ou virtudes não pode ser bem compreendida em isolamento. Quem quebrou esta imagem foi ignorante por pensar na segunda lei, sem levar em conta a sétima, oitava e décima. A sétima, "não cometerás adultério", tem como virtude a Consciência, saber o que é devido e o que não é, ter disciplina e respeito; a oitava, "não roubarás", tem como virtude a Felicidade, não querer nem invejar o que é do outro e ser feliz por si mesmo; e a décima, "não cobiçarás o que é do próximo", tem como virtude a Pureza e assim como a sétima e oitava, implica no RESPEITO, na purificação da mente, do corpo e do espírito, em não se manchar com ódio, violência, vaidade e prepotência.

Sejam puros, verdadeiros, felizes e ponderados; assim a lei divina e consequentemente a Lei Escoteira, mesmo que você não seja escoteiro, estará sendo cumprida.

Concluindo, se analisarem, como acabei de fazer, este trecho do Êxodo, que trata dos mandamentos e leis trazidos por Moisés, perceberão que a banalidade com que o texto fala sobre escravidão, mostra o quanto existe de podridão humana nesta suposta "palavra divina" e o quanto é errôneo aceitar a simples literalidade do que está ali posto. Perante a simples afirmação literal do que está na Bíblia eu diria, inclusive, que é uma obrigação moral quebrar todos os mandamentos, mas esta quebra, se bem governada e refletida acaba por ser um cumprimento muito mais profundo de tudo que subjaz à sua verdade, a verdade divina, à verdade única do universo, do tudo, do todo uno e infinitamente múltiplo, que é Deus.