21 de dezembro de 2015

Quatro palavras sobre sexo

Eu li um texto sobre sexo com sentimentos. Fiquei inspirado, achei que ia escrever um texto teórico genial, educativo, libertador e divino transcendental, mas fui escrevendo e percebendo que é meio difícil falar direito do tema.

Vou então apenas fazer alguns comentários. Um preâmbulo, pra quem sabe falar melhor em outros textos:

Primeiro. Não precisa de pressa e desespero. Eu me iniciei tarde, aos 22 anos. Não tenho absolutamente nenhuma vergonha de dizer isso (hoje). No fim concluí que foi algo benéfico e necessário. Com minha índole de canceriano e minha adolescência cheia de idealismos e emotividade eu talvez teria me matado antes dos 20 anos se tivesse rolado. Ou teria conduzido meu aprendizado a uma direção errada. Fato é que pude ter uma experiência com menos desespero e mais empatia pelo outro, desde a minha primeira vez.

Segundo, sexo é amor. Não dá pra pensar em sexo "sem amor" porque Sexo é um dos possíveis significados para a palavra Amor. Era esse o amor cantado por Catulo. O sexo é tão complexo quanto o amor, representa toda uma relação em um microcosmo. Ele dá terrivelmente errado se uma pessoa ignora a outra e pensa só em si. Pensar já é um problema. Sexo é sensação, sentido, sentimento. Não é pré definido, só existe na interação. Envolve um tipo de comunicação que não é linguístico, mas corpóreo, simbólico, quiçá telepático e de conexão espiritual. 

Terceiro. Pode ser na primeira noite sim! Estamos em pleno século XXI e moralismos não são mais necessários nem desejáveis, independente da religião. O que não pode é forçar a barra. Nem consigo, muito menos com o outro (que é crime de assédio ou estupro!). De novo: sentir mais e pensar menos. Não só sentir: sentir com (no mínimo) empatia e respeito pelo outro. De preferência também com carinho, afeto, cuidado e interesse pelo outro, obvio, e por si também. De novo sobre tempo: teoricamente ir muito rápido é ruim, mas as vezes surge uma força descomunal, um desejo que pode ocasionar um momento inesquecível, numa hora, e de repente:
— Cadê aquela química que tava aqui????
— Foi bom te conhecer, parça!
Sentir se é o momento, em si e no outro, já é parte do sexo. Uma parte que não pode ser abandonada. O tempo é importante. Às vezes PRECISA ser leeento, loooongo; às vezes PRECISA ser um BUM!

Quarto. Sexo é uma coisa pra cada pessoa. É uma coisa pra você e, ainda por cima, pra você muda em função do outro. Por isso tem aquela palavrinha complicada chamada "sexualidade", que não é "sexualismo", e que, na minha opinião, não pode ser enquadrada em três ou quatro rótulos comportamentais. Você vai se sentir atraído ou não por cada pessoa que encontra. E você pode ser livre pra sentir e perceber isso. É bom pra gente se entender:
Não é uma pessoa, viva e sexualmente madura?
vai se tratar!
Você se preocupa demais com quais são as pessoas com que os outros se relacionam ou desejam?
Vai se tratar!
Não consegue lidar com seus sentimentos, tendo impulsos violentos ou suicidas?
Vai se tratar!
Encarar os nossos desejos ajudar a gente a se entender e às vezes a cuidar de nós mesmo como uma autoterapia.

Beijos!

16 de dezembro de 2015

Chuva mijo e lixo

A multidão de toda parte
sempre me bate e acalanta
em bares quinas, Rei do Mate
canta e encanta e ama espanca

e nunca encaixa no tempo a vida
e o coração dentro do peito
e a barulheira na avenida
pra dor de ouvido dá-se um jeito

e como dá pra amar-se isso
que cheira a chuva mijo e lixo?

eu não me amo, eu me declaro
eu não consigo, eu me persigo
e um bom barato acaba caro
na rua para
carro e perigo

contra maré de gente eu vou
com mente sã passando mal
eu me persigo eu não sou
um perseguido capital

co'a gente torta um belo nicho
que gruda como carrapicho
no inconsciente sem o capricho
dos predadores, selva e bicho

e como da pra amar-se isso
que cheira a chuva mijo e lixo

pois já dizia o bom chicó
não sei só sei que foi assim só

Parôdia antônima

vai no Cabelegria
grupo escoteiro
trampa todo dia
por pouco dinheiro

pega metrô
pro rolê de graça
encontra os amigos
e não tem pirraça

final de semana
tá no movimento
com seu coletivo
sarau ou evento

diz "que se foda"
usa ciclovia
vai fazer yoga
Marcha das Vadias


15 de dezembro de 2015

precisando sentar

aquietar
assentar
silenciar
sentimentar:

o céu
a lágrima
a força
o chão

curar tensões
curar pressões
despreocupar

adentrar
sem nome
sem forma
sem fôrma
sem passado
sem futuro
sem tempo
vindouro

Vir

a fundo
a centro
a mim
Amém


10 de dezembro de 2015

precisando voar

soltar um pouco as asas
curar a miopia
ver tudo
que vou comer
pensei aqui comigo

ir pro céu
ir pra fora
 do alcance do inimigo(r)

26 de novembro de 2015

magrafia

Se tincomoda minha magrafia
primeiro me da oq come
depois agente conversa
se escuta quando eu responde

se tincomoda minha letra
num implica
da licenca
poetica
que quem n intende
num critica

se te incomoda minha voz
opre são
benedito
que pode falar
se souber respeitar

que num pode saber capoeira
sem antes sabe ginga

que num tem roda
se ninguem joga

PS: Em homenagem aos alunos da EE Castro Alves e EE Joaquim Leme do Prado

Café

Letargia no dia-dia
as letras se mistarundo
me lantevo de pé e adno 
retomado, meu rosto se retorce

— Odeio Café

Café certo,
forte, 
amargo.
Acordoado, os neorônios se agitam:
Odeio café!
penso lembro rápido as letras e linhas
minha fraqueza se define
de embaçado a desforme
contorno de descontrole
de quando acorda, de quando dorme.
Odeio café forte!
odeio gente fraca, café forte, 
que se definha de vício fácil
de rotinazinha mesquinha

Tempo forte, turvo, amargo
ver voltas, ver tudo que passe

somar-se dia, soma mês, soma ano
tem café?
somar-se dia, soma mês, soma ano
um cafezinho?
somar-se dia, soma mês, soma ano
vai uma média?
somar-se dia, soma mês, soma ano
café pequeno?
somar-se dia, soma mês, soma ano
café estresso?
somar-se dia, soma mês, soma ano

Café café café
somar-se dia, soma mês, soma ano
só me fiz trago no soma paulistano

15 de novembro de 2015

Tudo

"sou um homem
sou um bicho"
Mauro Kwitko
sou uma
a mulher

sou o ócio
sou a crise
sou a crase
sou a fé

sou o credo
sou o medo
sou o negro
sou a cor

sou o mando
sou o brando
sou o branco
sou o amor

sou o ódio
sou o pódio
sou o sódio
sou o não

sou o cinco
sou o circo
sou o vinco
sou o pão

sou falível
sou sensível
sou nocivo
sou bebum

sou o nada
sou o cada
sou o mudo
sou o tudo

soul o um

bolsas de fitas coloridas


De 7/11/2015
Coautoras: Lara Pascom e Jane Dones

14 de novembro de 2015

expressão sem sentido

tomei uma bota
um chá de cadeira
um tapa na cara

disse que me disse
sem lé com qué
um fez que ia

troquei as bolas
os pés pelas mãos
engulo alguns sapos
aprendo lição

de pato pra ganso
sangrou o meu peito

expressão sem sentido
sem eira nem beira
sem norte
cega em tiroteio
enche linguística
pra dar uma folga
desse toque
de puteiro

19 de outubro de 2015

Na massa

tem gente querendo me amassar
me por na massa
e não há nada
que satisfaça

tem gente querendo me deglutir
com pao com alho
e vão pra casa
não me espantalho

tem gente querendo me entender
como a um livro
eu não me livro
eu não me livro

tem gente querendo me subjulgar
a todo mal
eu vou sair
do tribunal

2 de julho de 2015

Parque do Pac

Os corpos estirados no corredor
Adubam grama e flores que dão muita cor
um resto de ruína que ninguém quer ver
um resto de ruína que ninguém quer ver

Pessoas entre grades
histórias apagadas
sobrou só a metade
de morte decretada
e só sobreviveu
quem fingiu que morreu

e foi tudo enterrado
num lindo cemitério
fingindo-se virtude
pra toda juventude
e só sobreviveu
quem fingiu que morreu


no fim só uma escola
poe fim na prisão
faz nossa memória
viva em nosso coração

um dia os fantasmas
poderão dormir
mas nossa memória
nunca vai sumir


Coautora: Samylle Danúbia

clima poético

o diazinho 'tá cinzazul
céu rosto cara de alegreste
não sei se chove não sei se move
não sou bivolt
vai sai vuou
vai sabiá

Carta à uma moça

Cara Melissa
Sei ue esse papo não é convincente, as pessoas hoje não enviam mais cartas, mas me de vontade.
Queria muito dizer que não entendi o que aconteceu na noite em que nos conhecemos. Sua necessidade de beber a cerveja no copo ainda escorre pela minha anca. Sua declaração de desejo, "Não sei porque eu estou te contando tudo isso", ainda me faz rir. Nossa cachaça dividida ainda me embriaga. Sua baixa autoestima ainda me comove e me faz dizer: "Gata, seu corpo é exatamente do jeito que deveria ser. Você é linda pra mim porque eu te quero linda. Meu pau pulsa por você. Você será linda pra você quando gritar que é linda, sem ligar pras telas e chega de chorumelas"

Sua imaturidade já me sinalizava que não ia durar. Você se apegava nos virais da moda, nas séries da Universal (da Universal!), nos problemas do seu pai, nos filmes preferidos dos hipsters... Seus olhos verdes ainda me atraem.

Queria muito dizer que não entendi o que aconteceu na noite em que nos trepamos. Sua boca delicada ainda me lambe os beiços; e sua selvageria ainda morde. Meu descuido com as mãos me desconcerta um pouco; seus seios macios ainda me excitam; seu gemido de gozo ainda me faz sorrir; mas meu afã interrompido pelo seu desânimo ainda se revolta; meu atrito interrompido ainda quer que eu ejacule. Quanto mais eu me masturbo mais forte a sensação se instala.

Que desgraça a incomunicabilidade humana. A primeira rodada foi tão fraca... A segunda parecia tão promissora e de repente pá! O vácuo. O vácuo no peito, o vácuo na púbis. Você levantou e levou meu pau embora. Caí na sarjeta chorando e chupando o dedo, bêbado e derrotado.

Queria muito dizer que não entendi o que aconteceu na noite em que nos despedimos. Seu beijo de tchau ainda arde na pele do meu rosto e seu educado "desculpa" ainda dói no meu ouvido; meu afeto ainda está querendo mais tempo e meu orgulho não tem nem mais um segundo pra você.

Meu espírito está machucado. É um dilema moral. Você entende? É um dilema moral! O que eu faço, Melissa?! Queria saber o que você pensa, mas não dá pra você me dizer. Não sei como eu poderia chegar em você sem ser escroto ou estranho em demasia. Sou o meu pior inimigo. Me lembrei daquela "carta ao meu estuprador". Tenho medo da minha fraqueza humana e minha maldade latente me tornarem seu destinatário. Não vou deixar.

Queria muito saber o que é ser uma mulher... Pra saber de verdade o que seria a negação do machismo numa situação como esta. Eu sempre tive o impulso de evitar a cafajestagem. Essa seria uma atitude cavalheiresca. Mas péra! O cavalheirismo não é tão patriarcal quanto a própria cafajestagem? Caralho! Me responde Melissa! O que eu faço Melissa? O que eu faço? Não posso sequer te procurar. Não posso fingir que gosto dos seus seriados pra puxar assunto porque já fiz e não deu certo.

Sua apatia me fodeu logo de manhã. A falta de significado da sua fala digitada feriu muito o meu ego. Eu só queria saber se você estava tranquila. Não queria te abandonar. Homem é um bixo fraco e ingênuo. Mas quero me limpar do meu egocentrismo. Ouviu melissa! Foda-se se você se lincha pra mim. Vou estar disponível pra você, ao mesmo tempo em que assumo que fui eu quem fiquei mordido.

Você mordeu meus lábios e ainda dá pra sentir o gosto de sangue. Você me impactou e eu vou me liberar do baque, pois não posso simplesmente calar. Me calei a vida inteira Melissa! A vida inteira escondi de você meus sentimentos. Guardei tudo no fundo do meu peito como se fosse um Tai lung aprisionado, esperando pra fazer sua fuga (no filme do Kung fu panda, que você odeia); como se fosse um monte de beterraba cozinhando numa panela de pressão sem válvula; como uma bexiga de hélio subindo solta. Agora não vou mais guardar, vou disfarçar e distorcer e dispensar nesta carta:

educação centidébil
mental
carta divã
filosofia amorosa

Carinhosamente.

9 de junho de 2015

poesia mor

queria fazer um poema de amor
não podia
não tinha palavras
só tinha o sentido

Tentei fazer uma canção de amor
não podia
porque amor de rádio
não irradia

não desisti
transcendi

me calei










e nele me fiz
e nela me fiz
Poesia
mor

1 de junho de 2015

batalhão

Passei na frente do batalhão

uma flor na cabeça
um cu na mão
um amigo gritando sem sair do tom

e os fantasmas do Carandiru?
muita gente não os esqueceu

Quem batalha
Quem deu a letra
tinha o poder destrutivo
do amor
pelo que se despedaçara

o amor não tem piedade
de quem não tem amizade
de quem não tem vergonha
e estapeia
a cara

O amor sim
muito mais
estapeia
perfura
queima
destrói
com todo ódio em contradição
a cara
de quem não tem
coragem nem
coração nem
pura amizade
ou compaixão




17 de abril de 2015

#semtitulo

cu na mão
pé na cara
curvas
corpos
enlace
face a face
apraz-se
amasse
amasse
amasse
revoluções
em um só respiro

em um só respiro
quebra de paradogmas
quebra dos ísquios
delícia a vista
inesquessência
do seu sexo
no meu dedo

26 de março de 2015

Concerto pro peito

Quero menos cabeça
menos blablabla
nossos corpos se entendem
não dá pra explicar
O que os dedos aprendem
o que há no ar

Eu só quero
sentir o seu corpo
querendo gozar

Cemitério
de toda tristeza
que pode brotar

Desespero
de ver o seu tronco
curvando no ar

Eu só quero
tocar os seus poros
até me molhar

E se não tiver jeito
tudo bem também
tem concerto pro peito
tudo soa bem
nunca vai ter perigo
te querer teu bem

20 de março de 2015

Igor racista!

Foi aos 14 anos, quando eu estava no 8º ano do ensino fundamental, que em certa tarde eu estava indo pra casa e senti aquele cheiro. É uma memória bem difusa, mas sei que foi nessa idade. Nessa idade eu senti um cheiro que mudou minha concepção de vida. Um dos grandes marcos da minha consciência.
Antes, quando eu tinha 7 ou oito anos, morávamos em Ribeirão Preto, costumávamos ter sempre alguma pessoa, sempre mulher, geralmente negra ou de origem nordestina, que fazia faxina na casa uma vez por semana; e por um certo período de tempo tivemos uma moça que vinha e trazia sua filhinha, ainda bebê. Eu não gostava dela, não gostava da filha dela, que fazia barulho e chorava por motivos que eu não entendia, a moça me dizia "conversa com ela", mas eu resmungava que não tinha como eu conversar com alguém que não sabia falar, não sabia como.
Anos depois, com 12 anos eu comecei a ir de ônibus para casa da escola, já morando em São Paulo. Fato é que subi no ônibus, que estava razoavelmente cheio, mas não lotado, passei a catraca, fui para o fundo, para ficar perto da porta. Na última fileira de bancos havia uma mulher sentada, não gostei dela e de repente me veio a memória da minha antiga faxineira. Veio vindo à minha cabeça um raciocínio e comecei a pensar. Nossa! O que me incomoda? O cheiro dessa mulher. O mesmo daquela faxineira de Ribeirão. Como chamo esse cheiro? Acho que é "cheiro de negro". Odeio esse cheiro de negro. Quero descer.
Com 12 anos minhas ações começavam a ficar já mais independentes, minha mãe não brigava mais pra que eu tomasse banho, ela não me obrigava a escovar os dentes, não me obrigava a passar tardes na escola onde ela trabalhava, pois eu já estava grande o bastante para ir para casa (cerca de 2km da escola) de ônibus ou a pé. Eu fui criando, a partir daí uma certa identidade com bandas e artistas de rock, que eu gostava de escutar, tinha vontade de deixar o cabelo crescer, de tocar violão, ter uma guitarra, zoar com os amigos e às vezes dar voz à preguiça não tomando banho, deixando de fazer uma ou outra lição e brincadeira já ia virando "coisa de criança". Comecei a ir a pé para casa, pois valia mais a pena gastar o passe escolar trocando por um pastel.
Acontece que após essa puberdade, meninos começam, por volta dos 14 anos, a transpirar mais, a ter pelos nas axilas, a produzir mais testosterona (que agrava o cheiro corporal). Eu ainda não tinha entendido bem a utilidade de desodorantes, que antes eram desnecessários, já tinha sido algumas vezes zoado na escola por estar cheirando mal, mas acabei tendo uma situação realmente peculiar quando cheguei a este dia e este momento do início do texto. Senti um cheiro, aquele mesmo cheiro de negro, olhei em volta e não havia nenhum negro por perto. Puxei a gola da camiseta até a altura dos olhos, levantei o braço direito e que desgraça de cheiro de negro. Minha cabeça se pôs a funcionar de novo. Eu não havia passado desodorante, estava a três dias sem tomar banho, minha rebeldia estava exalando um odor não tão aplaudível. Mas meu pensamento foi girando e o cheiro foi ficando mais forte, fui chegando em casa muito incomodado e o cheiro continuava aumentando. Já não era o mesmo cheiro, alguma coisa estava errada. O cheiro não era só ruim ou incômodo, mas insuportável. Minha cabeça ativa foi se questionando. O que é isso? Como pode?

Isso é o cheiro, Igor. Isso é o fedor fétido. É a podridão do seu racismo esfregada no seu nariz.

7 de março de 2015

Os mandamentos: Verdade na mente e no espírito

Imagens e texto citado extraídos da página Cidade da fé

" Mais um Sacrilégio! Há poucas horas, um protestante da igreja universal - sim, aquela porcaria de seita do "bispo" Macedo - invadiu a Igreja Matriz de Montes Claros-MG e quebrou várias estátuas de santos. A polícia já prendeu o vândalo.
Mais informações na página da Arquidiocese De Montes Claros
 "

A ignorância humana é infinita. Quando você se depara com a notícia de que um cristão quebrou monumentos cristãos você imagina o que raios motivou uma atitude dessa. Feita a pergunta alguém levanta o dedo e fala, "ah! é por causa dos dez mandamentos". Está explicado, mas justificado não está mesmo!

Existe utilidade no estudo de textos bíblicos, mas é claro que não podemos internalizar esses mandamentos simplesmente engolindo um texto escrito a milênios atrás. A partir de cada mandamento uma reflexão pode (e deve) ser levantada. 
O segundo mandamento (não farás imagens quaisquer para adorá-las, etc) está ligado ao que é superficial. A ideia é manter a adoração à entidade espiritual, não privilegiando uma imagem. Isso não significa que devemos destruir imagens. Significa que não devemos nos apegar a elas; em última instância não se trata apenas de santos e imagens de cruzes e de cristo; não devemos nos apegar a templos, a igrejas, a sacerdotes (principalmente os falastrões, criminosos, fundamentalistas), já que o divino reside dentro de cada um de nós.

Fora que mandamentos similares são universais em todas as religiões. Estão ligados a virtudes essenciais humanas. A virtude do primeiro mandamento, assim como do primeiro artigo da lei escoteira, é a virtude da verdade. Trata-se da busca da verdade suprema, que está ligada à crença em um deus único, perante a Bíblia.

Mas afinal, pensar que Deus é único e onipresente não deveria nos fazer respeitar todas as religiões, já que Deus, sendo único e onipresente, repito, está obviamente manifesto em todas elas?

A segunda virtude, que se refere a estas imagens, é a lealdade. A lealdade a essa mesma verdade. Pensar em um deus único e depois pensar em múltiplos deuses, em imagens, em personalidades, poderia ser a ausência de lealdade. Mas já que estamos no plano metafísico, me parece que o importante é a postura. Sermos leais a nós mesmos é um primeiro ponto. Se sentirmos que estamos sendo leais, importa essa perspectiva interna. Ou seja, perante a crença católica, não há problemas considerar os santos como entidades intermediárias e não há problemas em fazer estátuas de Santos como adornos. Se você discorda, basta ficar longe.

Cada uma das leis, mandamentos e/ou virtudes não pode ser bem compreendida em isolamento. Quem quebrou esta imagem foi ignorante por pensar na segunda lei, sem levar em conta a sétima, oitava e décima. A sétima, "não cometerás adultério", tem como virtude a Consciência, saber o que é devido e o que não é, ter disciplina e respeito; a oitava, "não roubarás", tem como virtude a Felicidade, não querer nem invejar o que é do outro e ser feliz por si mesmo; e a décima, "não cobiçarás o que é do próximo", tem como virtude a Pureza e assim como a sétima e oitava, implica no RESPEITO, na purificação da mente, do corpo e do espírito, em não se manchar com ódio, violência, vaidade e prepotência.

Sejam puros, verdadeiros, felizes e ponderados; assim a lei divina e consequentemente a Lei Escoteira, mesmo que você não seja escoteiro, estará sendo cumprida.

Concluindo, se analisarem, como acabei de fazer, este trecho do Êxodo, que trata dos mandamentos e leis trazidos por Moisés, perceberão que a banalidade com que o texto fala sobre escravidão, mostra o quanto existe de podridão humana nesta suposta "palavra divina" e o quanto é errôneo aceitar a simples literalidade do que está ali posto. Perante a simples afirmação literal do que está na Bíblia eu diria, inclusive, que é uma obrigação moral quebrar todos os mandamentos, mas esta quebra, se bem governada e refletida acaba por ser um cumprimento muito mais profundo de tudo que subjaz à sua verdade, a verdade divina, à verdade única do universo, do tudo, do todo uno e infinitamente múltiplo, que é Deus.

6 de fevereiro de 2015

pega-pega

Na brincadeira de pega-pega
sou um pouco atrapalhada
acho que estou na vez de pegar
mas eu é que sou a pegada

no fim eu perco, fico de fora
corro corro e dá em nada
devia achar qualquer brincadeira
que pega pega que nada!

mas eu detesto brincar sozinha

e o que pega é que todo mundo
só quer brincar de pega-pega